sábado, 16 de fevereiro de 2013

Relação de amor e ódio



A menos que você acesse a freqüência consciente da presença, todos os seus relacionamentos, principalmente os mais íntimos, vão apresentar defeitos profundos. Durante um tempo, eles podem dar a impressão de serem perfeitos, como quando estamos apaixonados, mas, invariavelmente, essa perfeição aparente acaba destruída por discussões, conflitos, insatisfações e até mesmo por violência física e emocional, que passa a acontecer com uma freqüência cada vez maior. Parece que a maioria dos “relacionamentos amorosos” não leva muito tempo para se tornar uma relação de amor e ódio.

O amor pode se transformar em agressões furiosas, em sentimentos de hostilidade ou, num piscar de olhos, em um completo recuo da afeição. Isso é visto como normal. Os relacionamentos, então, oscilam por um tempo, por alguns meses ou anos, entre as polaridades de “amor” e ódio, e nos trazem muito prazer e muita dor. Não é pouco comum que os casais se tornem viciados nesses ciclos. Esse tipo de drama nos faz sentir vivos. Quando o equilíbrio entre as polaridades negativa e positiva é desfeito e os ciclos negativos e destrutivos acontecem com freqüência e intensidade crescentes, não demora muito para o relacionamento acabar.

Pode parecer que tudo se resolveria se conseguíssemos eliminar os ciclos negativos e destrutivos, permitindo que o relacionamento florescesse sem problemas, mas isso não é possível. As polaridades são mutuamente interdependentes. Não podemos ter uma sem a outra. A positiva já contém dentro de si a negativa, ainda não manifestada. Ambas são, na verdade, aspectos diferentes de um mesmo sistema defeituoso. Estou tratando aqui dos chamados relacionamentos românticos, não do verdadeiro amor, que não possui opositores porque nasce além da mente. O amor como um estado permanente ainda é raro de encontrar, tão raro quanto a consciência nos seres humanos. Entretanto, é possível haver lampejos breves e ilusórios de amor, sempre que existir um espaço no fluxo da mente.

O lado negativo de um relacionamento é mais facilmente reconhecido como um defeito ou anormalidade do que o positivo. E é muito mais fácil reconhecer a fonte da negatividade no parceiro do que vê-la em nós mesmos. Ela pode se manifestar de várias formas, tais como possessividade, ciúme, controle, ressentimento, insensibilidade e egocentrismo, cobranças emocionais e manipulação, raiva e violência física, necessidade de ter sempre razão, de discutir, criticar, julgar, culpar, agredir, irritar, ou se vingar, inconscientemente, de um sofrimento do passado imposto por um dos pais.

Pelo lado positivo, há uma “paixão” pela outra pessoa. No primeiro momento, esse é um estado altamente gratificante. Sentimos que estamos intensamente vivos. Nossa existência passa a ter um significado porque, de repente, alguém precisa de nós, nos deseja, e nos faz sentir especial. Além disso, provocamos as mesmas sensações no outro, o que faz com que os dois se sintam completos. O sentimento pode se tornar tão intenso que o resto do mundo perde o significado.

Você deve ter percebido que existe uma certa dependência nessa intensidade. Ficamos viciados na outra pessoa, que age sobre nós como uma droga. Quando a droga está disponível, nos sentimos muito bem. Mas a possibilidade, ainda que remota, de que ela não esteja mais ali, disponível para nós, pode levar ao ciúme, à possessividade, a tentativas de manipulação através de chantagem emocional, culpa ou acusações – o que, no fundo, é o medo da perda. Se a outra pessoa nos abandonar mesmo, pode fazer nascer a mais intensa hostilidade, ou um profundo desespero. Em segundos, a ternura amorosa pode dar lugar à agressão selvagem ou a um desgosto terrível. Onde é que está o amor agora? Será que o amor pode se transformar no seu oposto em segundos? Será que era amor de verdade ou um vício, uma dependência?

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