Em situações em
que a nossa vida está ameaçada pode ocorrer naturalmente essa mudança na
consciência do tempo para o momento presente. A personalidade que tem um
passado e um futuro retrocede e é substituída por uma presença consciente
intensa, serena, mas, ao mesmo tempo, alerta. Sempre que uma reação se faz
necessária, ela surge desse estado de consciência.
Muitas pessoas,
embora não percebam, gostam de se envolver em atividades perigosas, como
escaladas de montanhas, corridas de automóvel, vôos de asa-delta, pela simples
razão de que essas atividades as trazem para o Agora, livre do tempo, dos
problemas, dos pensamentos e das obrigações pessoais. Nesses casos, desviar sua
atenção do momento presente, nem que seja por um segundo, pode significar a
morte.
Infelizmente, essas pessoas passam a depender de uma atividade em particular
para ficarem nesse estado. Mas você não precisa escalar a face norte do Eiger[1].
Você pode entrar nesse estado agora.
Desde a
antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a
chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um
segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a
uma igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia
de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”,ou “Ninguém que lança
mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”. A
profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas.
Parece que ninguém percebe que os ensinamentos foram formulados para serem
vividos e, dessa forma, provocarem uma profunda transformação interior.
Toda a essência
do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em
estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento,
nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No
Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem.
O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a
atenção de seus alunos do tempo,
levantava o dedo com freqüência e perguntava
calmamente: “O que está faltando
neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma
atenção profunda para o
Agora. Outra questão muito usada na
tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”
O Agora é também um ponto central no ensinamento
do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O
sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do
sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em
ambos”.
Mestre Eckhart,
mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas
palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há
maior obstáculo para Deus do que
o tempo”.
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