domingo, 27 de janeiro de 2013

Acessando o poder do Agora



Momentos atrás, quando você falou sobre o eterno presente e a irrealidade do passado e do futuro, peguei-me olhando através da janela para uma determinada árvore. Já a tinha olhado muitas vezes antes, mas agora foi diferente. Não percebi muita diferença na forma externa, exceto que as cores pareciam mais vivas. Mas havia uma dimensão adicional que antes eu não tinha notado. É difícil de explicar. Não sei bem, mas achei ter percebido alguma coisa invisível, como se fosse a essência daquela árvore, ou melhor, um espírito interior. E, de alguma forma, era como se eu fosse parte dela. Percebo, agora, que nunca tinha visto de fato a árvore, apenas uma imagem plana e morta. Quando olho para a árvore agora, parte daquela impressão ainda permanece, mas posso sentir que ela está desaparecendo. A experiência já está parecendo algo do passado. Será que alguma coisa como essa pode ser considerada mais do que um vislumbre passageiro?


Por um instante, você se libertou do tempo. Ao se concentrar no presente, pôde perceber a árvore sem o enquadramento da mente. A consciência do Ser tornou-se parte da sua percepção. Suprimir a dimensão do tempo faz surgir um tipo diferente de conhecimento, que não “mata” o espírito que mora dentro de cada criatura e de cada coisa. Um conhecimento que não destrói o aspecto sagrado nem o mistério da vida, e que contém um amor e uma reverência profundos por tudo o que é. Um conhecimento sobre o qual a mente nada sabe.

A mente não pode conhecer a árvore. O que ela conhece são apenas fatos ou informações sobre a árvore. A minha mente não pode conhecer você, só rótulos, julgamentos, fatos e opiniões sobre você. Só o Ser conhece diretamente.

Há um lugar para a mente e para o conhecimento da mente. Situa-se na prática do dia-a-dia. Entretanto, quando a mente domina todos os aspectos da nossa vida, incluindo as relações com outras pessoas e com a natureza, transforma-se em um parasita monstruoso que, se não reprimido, pode acabar matando todo o tipo de vida no planeta e, finalmente a si mesmo, ao matar quem o hospeda.

Você teve uma breve visão de como a ausência do tempo pode transformar nossa percepção. Mas não basta uma experiência, não importa quanto ela seja linda ou profunda. O que é necessário, e o que nos interessa, é uma mudança definitiva na consciência.

Portanto, rompa com o velho padrão de negação e resistência ao momento presente. Torne uma prática desviar a atenção do passado e do futuro, afaste-se da dimensão do tempo na vida diária, tanto quanto possível. Se você achar difícil entrar diretamente no Agora, comece observando como a sua mente tende a fugir do Agora. Vai notar que geralmente imaginamos o futuro como algo melhor ou pior do que o presente. Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer. Imaginá-lo pior nos traz ansiedade. Ambos os casos são ilusões. Ao observarmos a nós mesmos, um maior grau de presença surge automaticamente em nossas vidas. No momento em que percebemos que não estamos presentes, estamos presentes. Sempre que formos capazes de observar nossas mentes, deixamos de estar aprisionados. Um outro fator surgiu, algo que não pertence à mente: a presença observadora.

Esteja presente como alguém que observa a mente e examine seus pensamentos, suas emoções, assim como suas reações em diferentes circunstâncias. Concentre seu interesse não só nas reações, mas também na situação ou na pessoa que leva você a reagir. Perceba também com que freqüência a sua atenção está no passado ou no futuro. Não julgue nem analise o que você observa. Preste atenção ao pensamento, sinta a emoção, observe a reação. Não veja nada como um problema pessoal. Sentirá então algo muito mais poderoso do que todas aquelas outras coisas que você observa, uma presença serena e observadora por trás do conteúdo da sua mente: o observador silencioso.


Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa auto-imagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas “vão mal” ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar “inconscientes”. A reação ou a emoção nos domina, “passamos a ser” ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.

Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito.

 A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora. Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo – passado ou futuro – quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.

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