sábado, 16 de fevereiro de 2013

A beleza nasce da serenidade da sua presença



O que você acabou de descrever é algo que acontece comigo ocasionalmente por breves momentos quando estou só e em meio à natureza.

Sim. Os mestres zen usam a palavra satori para descrever um momento de insight, um momento de mente vazia e presença total. Embora satori não seja uma transformação duradoura, agradeça quando ele surgir porque terá uma amostra da iluminação. Isso já pode ter acontecido muitas vezes, sem que você soubesse o que significava e como era importante. A presença é necessária para tomarmos consciência da beleza, da majestade, do aspecto sagrado da natureza. Você alguma vez contemplou o espaço infinito em uma noite clara, estarrecido por sua calma absoluta e incrível vastidão? Já escutou, de verdade, o som de um riacho numa montanha na floresta? Ou o som de um melro ao cair da tarde em uma tranqüila tarde de verão? Para perceber tudo isso a mente tem que estar serena. Você tem de se despojar por um momento da sua bagagem pessoal de problemas, do passado e do futuro, e também do seu conhecimento. Do contrário, você olhará mas não verá, ouvirá mas não escutará. Estar totalmente presente é fundamental.

Existe algo mais sob a beleza das formas externas. Algo que não pode ser nomeado, que é inefável, uma essência profunda, interna e sagrada. Onde quer que exista a beleza, essa essência interior brilhará de alguma forma. Ela só se revela quando estamos presentes. Será possível que essa essência sem nome e a sua presença sejam coisas idênticas e uma coisa só? Será que a essência estaria lá sem a sua presença? Vá fundo nisso. Descubra por si mesmo.


Quando você vivenciou esses momentos de presença, provavelmente não percebeu que, por breves instantes, esteve em um estado de mente vazia. Isso aconteceu porque o espaço entre esse estado e o fluxo de pensamentos era muito estreito. O seu satori pode ter demorado só uns segundos antes que a mente surgisse, mas ele esteve lá, do contrário você não teria vivenciado a beleza. A mente não pode reconhecer, nem criar a beleza. Por alguns segundos, enquanto você esteve completamente presente, aquela beleza ou algo sagrado esteve lá. O pequeno espaço, sua falta de vigilância e a falha no estado de alerta impediram que você visse a diferença fundamental entre a percepção, a consciência da beleza sem pensamento, e a nomeação e interpretação disso como um pensamento. O espaço de tempo foi tão pequeno que pareceu ser um simples processo. No entanto, a verdade é que, no momento em que o pensamento surgiu, tudo o que lhe restou foi uma lembrança dele.

Quanto maior for o espaço entre a percepção e o pensamento, mais profundos seremos como seres humanos, ou seja, ficaremos mais conscientes.

Muitas pessoas estão tão aprisionadas em suas mentes que a beleza da natureza não existe para elas. Podem dizer “que flor linda”, mas é apenas um rótulo mental mecânico. Como elas não estão serenas, não estão presentes, não vêem a flor de verdade, não sentem a sua essência, do mesmo modo como não conhecem a si mesmas, não sentem a sua própria essência interior, sagrada.

Como vivemos em uma cultura dominada pela mente, a maior parte da arte moderna, da arquitetura, da música e da literatura é desprovida de beleza, de essência interior, com raras exceções. A razão é que as pessoas que criam essas obras não conseguem livrar-se das suas mentes, nem mesmo por um momento. Portanto, nunca estão em contato com aquele lugar interior, onde se originam a verdadeira criatividade e a beleza. A mente pode criar monstruosidades e não só nas galerias de arte. Olhe para as nossas paisagens urbanas e terrenos baldios em zonas industriais. Nenhuma civilização jamais produziu tanta feiúra.

Nenhum comentário: