sábado, 16 de fevereiro de 2013

A transformação através do corpo



Por que a maioria das religiões condena ou renega o corpo? Tenho a impressão de que as pessoas interessadas em uma busca espiritual sempre olharam o corpo como um obstáculo ou mesmo como um pecado.

Por que tão poucas pessoas encontram o que procuram?

Os seres humanos são bastante semelhantes aos animais no que se refere ao funcionamento do corpo. Ambos têm as mesmas funções corporais básicas, como respirar, comer, beber, defecar, dormir, sentir prazer e dor, ter o impulso de buscar um parceiro e procriar e, é claro, nascer e morrer. Muito tempo depois de terem decaído do estado de graça e unidade para o estado de ilusão, os seres humanos repentinamente despertaram no que parecia ser um corpo animal e ficaram bastante alarmados. “Não se iluda. Você não passa de um animal”. Era uma verdade óbvia, mas bastante difícil de suportar. Adão e Eva perceberam que estavam nus e sentiram medo. A negação inconsciente de sua natureza animal acabava de acontecer. A ameaça de que poderiam ser dominados por impulsos instintivos poderosos e reverterem ao estágio de total inconsciência estava muito próxima. A vergonha e alguns tabus em torno de certas partes e funções do corpo, especificamente quanto à sexualidade, passaram a existir. A luz da consciência dos humanos ainda não era forte o bastante para conviver com uma natureza animal, para permiti-la ser e até mesmo apreciar esse aspecto, muito menos para penetrar profundamente dentro dela, para encontrar a divindade oculta em seu interior, a realidade dentro da ilusão. Os humanos, então, fizeram o que tinham de fazer. Começaram a se dissociar de seus corpos. Viam agora a si mesmos como possuindo e não simplesmente sendo um corpo.

Essa separação ficou ainda mais acentuada quando as religiões surgiram, graças à crença de que “você não é o seu corpo”. Inúmeras pessoas do Leste e do Oeste, em todas as eras, tentaram encontrar Deus, a salvação ou a iluminação, através da negação do corpo. Essa procura passou por uma negação da satisfação dos sentidos, em especial da sexualidade, e por jejuns e outras práticas ascéticas. Algumas pessoas infligiam até mesmo sofrimento ao corpo, numa tentativa de enfraquecê-la ou puni-la, porque ele era visto como cheio de pecado. No cristianismo, isso era chamado de mortificação da carne. Outras pessoas tentaram escapar do corpo entrando em estados de transe ou buscando experiências extracorpóreas. Muitas ainda adotam essas práticas. Conta-se que até Buda praticou a negação do corpo através do jejum e de práticas extremadas de ascetismo durante seis anos, mas ele só atingiu a iluminação depois que abandonou essa idéia.

O fato é que ninguém jamais atingiu a iluminação negando ou combatendo o corpo, ou através de experiências fora dele. Embora uma experiência desse tipo possa ser fascinante e nos proporcionar um vislumbre do estado de libertação da forma material, no fim, sempre temos de voltar para o corpo, que é onde acontece o trabalho essencial de transformação. A transformação acontece através do corpo, e não distanciada dele. Essa é a razão pela qual nenhum dos verdadeiros mestres jamais defendeu lutar ou abandonar o corpo, embora seus discípulos, com base na mente, freqüentemente defendam.

Dos antigos ensinamentos relativos ao corpo, somente sobrevivem fragmentos, como as palavras de Jesus “todo o seu corpo será preenchido pela luz”, ou mitos, tal como a crença de que Jesus jamais abandonou seu corpo, mantendo-se unido a ele e com ele tendo subido ao “paraíso”. Quase ninguém, até hoje, compreendeu esses fragmentos ou o sentido oculto de certos mitos. A crença de que “você não é o seu corpo” prevalece em todas as partes do mundo, levando a uma negação do corpo e a tentativas de escapar dele. Isso tem impedido que inúmeras pessoas alcancem a realização espiritual e encontrem o que procuram.

É possível recuperar os ensinamentos perdidos sobre a significação do corpo ou reconstruí-los a partir de fragmentos existentes?

Não há necessidade disso. Todos os ensinamentos espirituais vêm da mesma Fonte. Nesse sentido, existe e sempre existirá somente um mestre, que se manifesta de vários modos diferentes. Eu sou esse mestre e você também é, desde que seja capaz de acessar a Fonte interna. E o caminho é através do corpo interior. Embora todos os ensinamentos espirituais tenham origem na mesma Fonte, no momento em que eles são verbalizados e escritos não passam de ajuntamentos de palavras, e uma palavra não passa de um letreiro em um poste apontando o caminho de volta à Fonte.

Já comentei sobre a Verdade escondida dentro do nosso corpo, mas vou resumir, outra vez, os ensinamentos perdidos dos mestres. Portanto, aqui está um outro letreiro. Por favor, procure sentir o seu corpo interior enquanto ler ou ouvir.

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