Por que o sofrimento é um obstáculo maior para as
mulheres?
O sofrimento, em
geral, tem um aspecto coletivo e um individual. O aspecto pessoal é o resíduo
acumulado de problemas e sofrimentos emocionais que a própria pessoa vivenciou
no passado. O aspecto coletivo é o sofrimento acumulado na psique da humanidade
por milhares de anos, através de doenças, torturas, guerras, assassinatos,
crueldades, loucuras, etc. O sofrimento de cada um de nós também participa
desse sofrimento coletivo. Por exemplo, certas raças ou países, onde ocorrem
formas extremas de lutas e de violência, possuem um sofrimento coletivo mais
intenso do que outros. Qualquer pessoa com um forte sofrimento e sem
consciência bastante para se desligar dele não só será forçada, de modo
contínuo ou periódico, a reviver o sofrimento emocional, mas também pode
facilmente se tornar autor ou vítima da violência. Por outro lado, essas
pessoas também podem estar potencialmente mais próximas da iluminação. Claro
que esse potencial nem sempre se realiza, mas, se você tiver um pesadelo,
provavelmente terá mais motivos para despertar do que alguém que acabou de ter
um sonho comum sobre as dificuldades da vida.
Além do
sofrimento pessoal, cada mulher tem participação naquilo que pode ser descrito
como o sofrimento feminino coletivo, a menos que ela esteja plenamente
consciente. Consiste no sofrimento acumulado vivido por cada mulher, em parte
pela dominação dos homens sobre as mulheres, pela escravidão, exploração,
estupro, partos, perda dos filhos, etc., durante milhares de anos. O sofrimento
físico e emocional, que para muitas mulheres precede e coincide com o fluxo
menstrual, é o sofrimento em seu aspecto coletivo despertando da sua dormência
naquele momento, embora possa ser detonado também em outras ocasiões. Ele
restringe o livre fluxo de energia vital através do corpo, da qual a
menstruação é uma manifestação física. Vamos nos deter um pouco nesse assunto e
ver como pode se tornar uma oportunidade para a iluminação.
Com freqüência, a
mulher é “dominada” pelo sofrimento físico e emocional nesse período. Ele tem
uma carga energética poderosa, que pode facilmente empurrá-la para uma
identificação inconsciente com ele. Você é, então, possuída por um campo de
energia que ocupa o seu espaço interior e finge ser você – mas não é você de
jeito nenhum. Ele fala através de você, age através de você, pensa através de
você. Vai criar situações negativas em sua vida de tal modo que ele possa se
alimentar da energia. Já descrevi
esse processo. Ele pode ser vicioso e destrutivo. É o sofrimento puro, o
sofrimento do passado, e não é você.
O número de
mulheres que estão se aproximando do estado de consciência plena já ultrapassa
o dos homens e vai crescer ainda mais rápido nos próximos anos. Os homens
poderão alcançá-las no final, mas por um tempo considerável haverá uma
distância entre a consciência masculina e a feminina. As mulheres estão
recuperando a função que é um direito natural delas: ser uma ponte entre o mundo
manifesto e o Não Manifesto, entre a materialidade e o espírito. A sua tarefa
principal agora, como mulher, é transformar o sofrimento de forma que ele não
mais se interponha entre você e o seu verdadeiro eu interior. Naturalmente,
você também tem de lidar com o outro obstáculo à iluminação, que é a mente
pensante, mas a presença intensa que você produz quando lida com o sofrimento
também vai libertá-la da identificação com a mente.
A primeira coisa
para lembrar é que, enquanto você construir a sua identidade em função do
sofrimento, não conseguirá se livrar dele. Enquanto investir uma parte do seu
sentido de eu interior no seu sofrimento emocional, você vai resistir ou
sabotar, inconscientemente, cada tentativa para curar o sofrimento. Por quê?
Porque você quer se manter inteiro e o sofrimento se tornou uma parte essencial
de você. Esse é um processo inconsciente e o único caminho para superá-lo é
torná-lo consciente.
Perceber, de
repente, que você está ou tem estado presa ao sofrimento pode lhe causar um
choque. No momento em que percebe isso, você acabou de romper com a ligação. O
sofrimento é um campo de energia, quase como uma entidade que se alojou
temporariamente no seu espaço interior. É a energia da vida que foi
aprisionada, uma energia que não está mais fluindo. Claro que o sofrimento está
ali por causa de certas coisas que aconteceram no passado. Ele é o
passado vivo em você. E, se você se identifica com ele, se identifica com o
passado. Uma identidade-vítima acredita que o passado é mais poderoso do que o
presente, o que não é verdade. É a crença de que outras pessoas e o que fizeram
a você são responsáveis pelo que você é hoje, pelo seu sofrimento emocional, ou
por sua incapacidade de ser o verdadeiro eu interior. A verdade é que o único
poder está bem aqui neste momento: o poder da sua presença. Uma vez que saiba
disso, perceberá também que só você é responsável pelo seu espaço
interior neste momento e que o passado não consegue prevalecer contra o poder
do Agora.
Portanto, a
identificação impede você de lidar com o sofrimento. Algumas mulheres,
conscientes o bastante para abandonar a identidade de vítima no nível pessoal,
ainda estão presas a uma identidade coletiva de vítima, que atribuem ao que “os
homens fizeram às mulheres”. Elas estão certas, mas também estão erradas. Estão
certas porque o sofrimento coletivo feminino é, em grande parte,
decorrente da violência masculina infligida às mulheres, bem como da repressão dos princípios femininos por
todo o planeta, durante milênios. Estão erradas se extraírem o sentido do eu
interior desse fato e, assim, se mantiverem aprisionadas em uma identidade
coletiva de vítima. Se uma mulher continua agarrada à raiva, a ressentimentos
ou condenações, ela continua agarrada ao seu sofrimento. Isso pode dar a ela um
reconfortante sentido de identidade, de solidariedade com outras mulheres, mas
a mantém escravizada ao passado e bloqueia um acesso integral à sua essência e
ao poder verdadeiro. Se as mulheres se afastam dos homens, favorecem um sentido
de separação e, portanto, um fortalecimento do ego. E quanto mais forte o ego,
mais distante você está da sua verdadeira natureza.
Assim, não use o
sofrimento para criar uma identidade. Use-o, em vez disso, para a iluminação.
Transforme-o em consciência. Uma das melhores épocas para fazer isso é durante
a menstruação. Acredito que, nos próximos anos, muitas mulheres irão atingir o
estado de consciência plena durante esse período. Normalmente, esse é um tempo
de inconsciência para muitas mulheres, porque são dominadas pelo sofrimento
coletivo feminino. Entretanto, você pode reverter isso uma vez que tenha
alcançado um determinado nível de consciência, e assim, em vez de se tornar
inconsciente, você fica mais consciente. Já descrevi antes esse processo
básico, mas vou apresentá-lo de novo, desta vez com uma referência especial ao
sofrimento coletivo feminino.
Quando você
percebe que o período menstrual está se aproximando, antes mesmo de sentir os
primeiros sinais do que é comumente chamada tensão pré-menstrual, o despertar
do sofrimento coletivo feminino, mantenha-se muito alerta e ocupe o seu corpo o
mais que puder. Quando o primeiro sinal aparecer, você vai precisar estar
bastante alerta para agarrá-lo, antes que ele domine você. Por exemplo, o
primeiro sinal pode ser uma grande e súbita irritação ou um lampejo de raiva,
ou simplesmente um sintoma físico. Seja lá o que for, agarre-o antes que ele
domine o seu pensamento ou comportamento. Isso significa simplesmente colocar o
foco da sua atenção sobre ele. Saber que se trata do sofrimento e, ao mesmo
tempo, ser o conhecedor, o que significa perceber a sua presença consciente e
sentir o seu poder. Qualquer emoção cede e se transforma quando colocamos a
presença sobre ela. Se for um simples sintoma físico, a atenção que você der a
ela vai evitar que se transforme em uma emoção ou em um pensamento. Continue
então alerta e espere pelo próximo sinal de sofrimento. Quando ele aparecer,
agarre-o de novo, do mesmo jeito que antes.
Mais tarde,
quando o sofrimento tiver despertado totalmente do seu estado de dormência,
você poderá vivenciar uma considerável turbulência em seu espaço interior por
uns momentos, talvez até por alguns dias. Qualquer que seja a forma que ele
tome, esteja presente. Dê a ele sua atenção completa. Observe a turbulência
dentro de você. Perceba que ela está lá. Sustente o conhecimento e seja o
conhecedor. Lembre-se: não permita que o sofrimento use a sua mente e domine o
seu pensamento. Observe-o. Sinta a energia de modo direto, dentro do seu corpo.
Como você já sabe, a atenção completa significa aceitação completa.
Através de uma
atenção continuada e, portanto, da aceitação, vem a transformação. O sofrimento
se transforma em uma consciência radiante, assim como um pedaço de lenha
colocado dentro do fogo se transforma em fogo. A menstruação irá então se
tornar, não só uma expressão de alegria e realização da sua feminilidade, mas
também um tempo sagrado de transformação, quando você faz nascer uma nova
consciência. A sua verdadeira natureza então reluz lá fora, tanto em seu
aspecto feminino como a Deusa quanto em seu aspecto transcendental do Ser que
ultrapassa a dualidade masculino/feminino.
Se o seu parceiro
for consciente, pode ajudar você a praticar o que acabei de descrever,
sustentando a freqüência da intensa presença, nessa hora em especial. Se ele
permanecer presente, sempre que você voltar a se identificar inconscientemente
com o sofrimento, o que pode e vai acontecer a princípio, você será capaz de se
juntar rapidamente a ele no estado de presença. Isso significa que sempre que o
sofrimento dominar você, seja durante a menstruação ou em outras ocasiões, o
seu parceiro não vai confundi-lo com quem você é. Mesmo que o sofrimento o
ataque, como provavelmente acontecerá, ele não vai reagir como se fosse você,
ou se retirar ou apresentar algum tipo de defesa. Ele vai sustentar o
espaço da presença intensa. Nada mais é necessário para a transformação. Em
outras vezes, você será capaz de fazer o mesmo por ele ou de ajudá-lo a
recuperar a consciência, retirando-a da mente ao desviar a atenção para o aqui
e agora, quando ele ficar identificado com o pensamento.
Assim, um campo permanente de energia de alta
freqüência vai aparecer entre vocês. Nenhuma ilusão, sofrimento, disputa, nada
que não seja vocês, nada que não seja amor pode sobreviver dentro dele. Isso
significa a realização do divino, o propósito transpessoal do seu
relacionamento.
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