sábado, 16 de fevereiro de 2013

Olhe além das palavras



Não gosto da palavra pecado. Ela pressupõe um julgamento e uma atribuição de culpa.

Posso entender isso. Durante muitos séculos, foram se acumulando interpretações erradas em torno de palavras como pecado, devido à ignorância, à incompreensão ou a um desejo de controle, embora todas contenham um fundo de verdade. Se você não for capaz de olhar para além de tais interpretações e, por isso, não reconhecer a realidade para a qual a palavra aponta, então não a use. Não se prenda às palavras. Uma palavra nada mais é do que um meio para atingir um fim. É uma abstração. Tal qual um letreiro em forma de seta em um poste, uma palavra aponta para além dela mesma. A palavra mel não é mel. Você pode estudar e falar a respeito de mel pelo tempo que quiser, mas não vai saber o que é enquanto não prová-lo. Depois de provar, a palavra perde a importância e não ficamos mais presos a ela. De forma semelhante, podemos falar ou pensar sobre Deus, sem parar, pelo resto da vida, mas será que isso significa que conhecemos ou que tivemos uma rápida visão da realidade para a qual a palavra aponta? Ela não passa de um apego obsessivo a um letreiro no poste, um ídolo mental.

O contrário também acontece. Se, por alguma razão, não gostamos da palavra mel, pode ser que jamais o experimentemos. Se você tem uma forte aversão à palavra Deus, o que é uma forma negativa de apego, pode estar negando não só a palavra como também a realidade para a qual ela aponta. Você estará se privando da possibilidade de vivenciar essa realidade. Tudo isso tem, naturalmente, uma relação direta com o fato de estarmos identificados com as nossas mentes.

Portanto, se uma palavra não significa mais nada para você, jogue-a fora e use outra que signifique. Se você não gosta da palavra pecado, chame-a então de inconsciência ou insanidade. Essa atitude talvez lhe aproxime mais da verdade – a realidade que está além da palavra – do que um longo uso equivocado da palavra pecado, deixando pouco espaço para a culpa.

Essas palavras também não me agradam. Elas pressupõem que existe alguma coisa errada comigo. É como se estivessem me julgando.

Claro que existe alguma coisa errada com você e ninguém está julgando nada.
Sem querer ofender, mas você não pertence à raça humana que matou mais de cem milhões de membros da própria espécie, somente no século vinte?

Você quer dizer que existe culpa por associação?

Não é uma questão de culpa. Mas, enquanto a mente nos governar, fazemos parte da insanidade coletiva. Talvez você não tenha olhado profundamente para dentro da condição humana sob o domínio da mente. Abra os olhos e veja o medo, o desespero, a inveja e a violência que penetra em tudo. Atente para a crueldade e o sofrimento abomináveis, em uma escala jamais imaginada, que os homens infligiram e continuam a infligir a outros homens, assim como a outras formas de vida. Você não precisa condenar, apenas observe. Isso é pecado. Isso é insanidade. Isso é inconsciência. Acima de tudo, não esqueça de observar a sua própria mente. Busque nela a raiz da insanidade.

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