sábado, 16 de fevereiro de 2013

O espaço



Do mesmo modo que o som não pode existir sem o silêncio, nenhuma coisa pode existir sem o nada, sem o espaço vazio. Cada objeto material ou cada corpo veio do nada, é cercado pelo nada e vai voltar para o nada. Até mesmo no interior de cada corpo físico existe muito mais “nada” do que “algo”. Os físicos nos dizem que a solidez da matéria é uma ilusão. Até matéria aparentemente sólida, como o nosso corpo, é quase 100 por cento espaço vazio, tão grandes são as distâncias entre os átomos em comparação com o tamanho deles. Além disso, mesmo no interior de cada átomo, a maior parte é de espaço vazio. O que resta é mais como uma freqüência vibracional do que partículas de matéria sólida, mais como uma nota musical. Os budistas sabem disso há mais de 2.500 anos. “Forma é o vazio, o vazio é forma”, afirma o Sutra do Coração, também conhecido como o Sutra da Sabedoria, um dos mais antigos e conhecidos textos budistas. A essência de todas as coisas é o vazio.

O Não Manifesto não se apresenta nesse mundo só como silêncio.. Ele também é o espaço que perpassa todo o universo físico, por dentro e por fora. É tão fácil de não percebermos quanto o silêncio.. Todos nós prestamos atenção às coisas no espaço, mas quem presta atenção ao próprio espaço?

Você está sugerindo que o “vazio” ou “nada” não é apenas nada e que existe alguma qualidade misteriosa neles? O que é o nada?

Você não pode fazer uma pergunta como essa. A sua mente está tentando transformar nada em algo. No momento em que você faz isso, já o perdeu. O nada – o espaço – é a aparência do Não Manifesto como um fenômeno externalizado, em um mundo percebido pelos sentidos. É o máximo que alguém pode dizer a esse respeito, e até mesmo isso é uma espécie de paradoxo. O nada não pode se tornar um objeto de conhecimento. Não se pode fazer um doutorado sobre o “nada”. Quando os cientistas estudam o espaço, geralmente o transformam em alguma coisa e assim deixam de captar a verdadeira essência dele. Por isso, não me surpreende que a última teoria sobre o espaço seja de que ele não é completamente vazio, que é preenchido por alguma substância. Quando existe uma teoria, não é difícil encontrar uma tese para comprová-la, ao menos até que outra teoria apareça.

O “nada” só pode vir a ser um portal para o Não Manifesto se você não tentar se apoderar dele ou compreendê-lo.

Não é isso o que estamos fazendo aqui?

Não necessariamente. Estou aqui lhe dando umas pistas para mostrar como trazer a dimensão do Não Manifesto para a sua vida. Ninguém está tentando compreendê-lo. Não há nada para compreender.

O espaço não tem “existência”. A palavra “existir” significa “destacar-se”. Não conseguimos compreender o espaço porque ele não se destaca. Embora não tenha uma existência em si mesmo, ele possibilita que todas as outras coisas existam. O silêncio também não tem uma existência, nem tampouco o Não Manifesto.

O que acontece então quando desviamos a nossa atenção dos objetos no espaço e passamos a perceber o espaço em si? Qual é a essência desta sala? Os móveis, os quadros, etc. estão dentro da sala, mas eles não são a sala. O chão, as paredes, o teto definem os limites da sala, mas também não são a sala. Qual é, então, a essência da sala? O espaço, é claro, o espaço vazio. Não haveria nenhuma “sala” sem ele. Como o espaço é “nada”, podemos dizer que aquilo que não está lá é mais importante do que aquilo que está. Portanto, tome consciência do espaço à sua volta. Não pense a respeito. Sinta-o do jeito que é. Preste atenção ao “nada”.

Ao agir assim, acontece uma mudança de consciência dentro de você. E o motivo é que o equivalente interno dos objetos situados no espaço, tais como móveis, paredes, etc., são os objetos da nossa mente: pensamentos, emoções e os objetos dos sentidos. E o equivalente interno do espaço é a consciência, que torna possível a existência dos objetos da nossa mente, assim como o espaço torna possível que todas as coisas existam. Portanto, se desviar a atenção das coisas – os objetos no espaço –, você automaticamente desvia a atenção dos objetos da sua mente também. Em outras palavras, você não pode pensar e estar consciente do espaço, ou do silêncio. Ao tomar consciência do espaço vazio à sua volta, você se torna consciente do espaço de mente vazia, da consciência pura, que é o Não Manifesto. É assim que a contemplação do espaço pode se tornar um portal para você.

O espaço e o silêncio são dois aspectos de uma mesma coisa, do mesmo nada. São formas exteriorizadas do espaço e do silêncio interior, que significam a serenidade, o útero infinitamente criativo de toda a existência. Muitos seres humanos não têm a menor consciência dessa dimensão. Não existe espaço interior, não existe serenidade, não existe equilíbrio. Em outras palavras, eles conhecem o mundo, ou pensam que conhecem, mas não conhecem Deus. Identificam-se exclusivamente com as formas físicas e psicológicas que construíram, mas não têm consciência da essência. E, como cada forma é altamente instável, vivem com medo. O medo causa uma profunda e distorcida percepção de nós mesmos e de outros seres humanos, uma distorção na nossa visão do mundo.

Se uma revolução cósmica provocasse o fim do universo, o Não Manifesto não seria afetado. O livro A Course in Miracles (Um curso em milagres) expressa essa verdade de modo comovente: “Nada real pode ser ameaçado. Nada irreal existe. Aqui reside a paz de Deus”.


Se você mantém uma conexão consciente com o Não Manifesto, você valoriza, ama e respeita profundamente o manifesto e cada forma de vida contida nele, como uma expressão da Vida Única além da forma. Você também sabe que cada forma vai se dissolver e que, no fim, nada lá fora tem tanta importância. Você “conquistou o mundo”, nas palavras de Jesus, ou, como Buda colocou, “você passou para a outra margem”.

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