Além do sono sem
sonhos, de que já tratei, existe mais um portal involuntário. Ele se abre, por
breves momentos, na hora da nossa morte física. Mesmo que tenhamos perdido
todas as outras oportunidades de alcançar a realização espiritual durante a
vida, um último portal vai se abrir para nós, imediatamente após o nosso corpo
ter morrido.
Existem inúmeros
relatos de pessoas que descreveram esse portal como uma luz radiante, depois de
regressarem do que é comumente conhecido como experiência de quase-morte.
Muitas pessoas falam também de uma sensação de serenidade abençoada e de uma
paz profunda. Em O Livro Tibetano dos Mortos[1],
ela é descrita como “o esplendor luminoso da luz branca do Vazio”, que seria o
“nosso verdadeiro eu”. Esse portal abre-se apenas por breves segundos, e, a
menos que você tenha encontrado a dimensão do Não Manifesto durante a vida,
provavelmente o deixará escapar. Muitas pessoas carregam uma grande resistência
residual, muito medo, um forte apego à experiência sensorial, uma enorme
identificação com o mundo manifesto. Então, quando vêem o portal, afastam-se
com medo e depois perdem a consciência. Muito do que acontece depois disso é
involuntário e automático. Posteriormente, poderá haver um outro ciclo de
nascimento e morte. A presença delas não foi ainda forte o bastante para uma
imortalidade consciente.
Então
atravessar esse portal não significa destruição?
Como em todos os
outros portais, a nossa natureza radiante e verdadeira permanece, mas não a
personalidade. Em qualquer caso, aquilo que for verdadeiro ou de real valor em
nossa personalidade é que vai se revelar através dela, como a nossa verdadeira
natureza. Isso nunca se perde. Nada que seja de valor, nada que seja real, jamais
será perdido.
A aproximação da
morte e a morte em si, a dissolução da forma física, é sempre uma grande
oportunidade para uma realização espiritual. Essa oportunidade é tragicamente
perdida na maioria das vezes, visto que vivemos em uma cultura que é quase
totalmente ignorante com relação à morte, assim como ignora, quase
totalmente, qualquer coisa que realmente importe.
Todo portal é um
portal da morte, da morte do falso eu. Quando o atravessamos,
deixamos de extrair a nossa identidade da nossa forma psicológica, construída
pela mente. Percebemos então que a morte é uma ilusão, do mesmo modo que
a nossa identificação com a forma era uma ilusão. O fim da ilusão – é isso o
que a morte significa. Ela só é dolorosa enquanto permanecemos presos à
ilusão.
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